DONA
NIRA
Faz
poucas horas que recebi um telefonema de meu irmão Toninho, com o seguinte
comunicado, curto e grosso: “encerrou. Mamãe se foi”.
MAMÃE;
era assim que nos três a chamávamos, pois foi ela que criou eu André e Toninho,
desde pequenos. A mim, desde os quatro meses.
Durante
toda minha vida, vivi nas barras de suas causas (ela não usava saias ou
vestidos) e só me apartei quando fui para universidade, aos 18 anos. Mas não
passava mais que 90 dias em ir em casa.
Me
formei e voltei para debaixo de suas asas, e mesmo casado, todo dia estava com
ela.
Me
apertou muito o peito quando decidi me mudar para o Mato Grosso e nestes 3 anos
e meio que aqui estou tive de vê-la em jul/2009, quando lá fui para o
nascimento de meu segundo filho, nas férias de 2010/2011, por 15 dias em
jul/2011, quando ela veio me visitar aqui em Ipiranga do Norte e nas férias
2011/2012. Havia 9 meses que estava longe de mamãe e o último mês (quando ela
teve TVP e embolia pulmonar), o meu humor variava mais que gangorra.
Tenho
a nítida impressão de estar escutando sua voz agora, com seus chavões que
compunham suas regras do bom viver: “quem com porcos se mistura, farelos come”;
“quem anda com cachorro, arranja rabujo pra si e pra seu dono”; “não brigam
dois cachorros se um não querer”; “se eu disser que pau é pedra, pau é pedra”; “caveira
quem te matou? R. A língua”.
Fazia
parte do ritual quando a encontrávamos, quer na chegada, quer na saída, quer
quando acordássemos ou quando fôssemos dormir tomar a benção: “bença mamãe” ou “mamãe,
a bença”, o que meus filhos, os de Toninho e futuramente a de André, vão tomar
também por tradição.
O
que mais me dói neste momento é não ter podido estar perto dela neste final.
Faleceu
com 89 anos, a um mês de completar 90.
Deixou
por legado o seu exemplo, pois sozinha, criou três netos, colocou todos para
estudar, fazer faculdade e se formar, e para isso, muitas vezes recorreu a
agiotas. Viu 5 bisnetos (a mais nova, filha de André, viu apenas por fotos e
vídeos). Ensinou como se enfrenta a vida: um dia após o outro. Sabia como
ninguém como moderar um conflito. Quando se irritava, chorava; quando tinha
saudades, chorava; se não gostasse de alguém, implicava com a pessoa até não
querer mais; dizia tudo na bucha, não tinha papas na língua.
Todos
de Princesa são testemunhas de que não havia um único dia que ela não estivesse
sorrindo, sempre com um alto astral e um humor de fazer inveja a muitos.
Não
parava em casa e vivia de bater pernas; andava a cidade inteira e em um minuto
iniciava uma conversa e uma amizade do nada.
O
amor, o laço, a admiração, a saudade, é o que fica neste momento...
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