sexta-feira, 26 de outubro de 2012

LUTO POR MAMÃE





DONA NIRA


Faz poucas horas que recebi um telefonema de meu irmão Toninho, com o seguinte comunicado, curto e grosso: “encerrou. Mamãe se foi”.

MAMÃE; era assim que nos três a chamávamos, pois foi ela que criou eu André e Toninho, desde pequenos. A mim, desde os quatro meses.

Durante toda minha vida, vivi nas barras de suas causas (ela não usava saias ou vestidos) e só me apartei quando fui para universidade, aos 18 anos. Mas não passava mais que 90 dias em ir em casa.

Me formei e voltei para debaixo de suas asas, e mesmo casado, todo dia estava com ela.

Me apertou muito o peito quando decidi me mudar para o Mato Grosso e nestes 3 anos e meio que aqui estou tive de vê-la em jul/2009, quando lá fui para o nascimento de meu segundo filho, nas férias de 2010/2011, por 15 dias em jul/2011, quando ela veio me visitar aqui em Ipiranga do Norte e nas férias 2011/2012. Havia 9 meses que estava longe de mamãe e o último mês (quando ela teve TVP e embolia pulmonar), o meu humor variava mais que gangorra.

Tenho a nítida impressão de estar escutando sua voz agora, com seus chavões que compunham suas regras do bom viver: “quem com porcos se mistura, farelos come”; “quem anda com cachorro, arranja rabujo pra si e pra seu dono”; “não brigam dois cachorros se um não querer”; “se eu disser que pau é pedra, pau é pedra”; “caveira quem te matou? R. A língua”.

Fazia parte do ritual quando a encontrávamos, quer na chegada, quer na saída, quer quando acordássemos ou quando fôssemos dormir tomar a benção: “bença mamãe” ou “mamãe, a bença”, o que meus filhos, os de Toninho e futuramente a de André, vão tomar também por tradição.

O que mais me dói neste momento é não ter podido estar perto dela neste final.

Faleceu com 89 anos, a um mês de completar 90.

Deixou por legado o seu exemplo, pois sozinha, criou três netos, colocou todos para estudar, fazer faculdade e se formar, e para isso, muitas vezes recorreu a agiotas. Viu 5 bisnetos (a mais nova, filha de André, viu apenas por fotos e vídeos). Ensinou como se enfrenta a vida: um dia após o outro. Sabia como ninguém como moderar um conflito. Quando se irritava, chorava; quando tinha saudades, chorava; se não gostasse de alguém, implicava com a pessoa até não querer mais; dizia tudo na bucha, não tinha papas na língua.

Todos de Princesa são testemunhas de que não havia um único dia que ela não estivesse sorrindo, sempre com um alto astral e um humor de fazer inveja a muitos.

Não parava em casa e vivia de bater pernas; andava a cidade inteira e em um minuto iniciava uma conversa e uma amizade do nada.

O amor, o laço, a admiração, a saudade, é o que fica neste momento...



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